Em junho, mês dedicado ao Orgulho LGBTQIAPN+, é preciso ir além das cores do arco-íris e entender no significado de cada letra dessa sigla que representa milhões de pessoas em todo o mundo. Mais que um conjunto de letras, cada símbolo carrega histórias de luta, resistência e existências que merecem ser celebradas e encontradas.
A sigla, que já foi apenas GLS lá nos idos da década de 1990, hoje abrange uma diversidade muito maior de identidades e orientações: L (Lésbicas), G (Gays), B (Bissexuais), T (Transexuais, Travestis e Transgêneros), Q (Queer), I (Intersexo), A (Assexuais), P (Pansexuais), N (Não-binários) e o +, que engloba outras identidades e orientações que compõem a diversidade humana.
Mas precisa de tanta letra e de tanto rótulo? O psicanalista, sexólogo, professor e Mestre em Ciências da Administração de Empresas pela MUST University (Flórida/EUA), Betto Alves, explica que a representatividade salva vidas. “Quando uma pessoa LGBTQIAPN+ vê alguém como ela ocupando espaços de poder, sendo feliz e vivendo plenamente, isso transmite a mensagem de que ela também pode sonhar e existir sem medo.”
Ele conta que, infelizmente, é comum ouvir pessoas desprezando a luta LGBTQIAPN+ usando o argumento de que hoje se fala mais sobre isso porque ser LGBT 'virou moda'. "Quando dizemos isso, estamos invalidando décadas de luta e sofrimento dessa parcela da população. Não virou moda! O que aconteceu é que as pessoas finalmente estão tendo acesso à informação e encontrando coragem para serem quem realmente são."
Negativo sim
Alves explica que o Mães do Orgulho é uma necessidade tanto como ferramenta terapêutica quanto como instrumento de transformação social. De uma perspectiva psicanalítica, ele combate os danos psíquicos da invisibilidade, diminuindo os impactos negativos da homofobia e transfobia internalizadas na saúde mental. “Enquanto as pessoas LGBTQIAPN+ continuam sendo assassinadas apenas por existirem, enquanto os jovens foram expulsos de casa por serem quem são, precisaremos não só de um mês, mas de uma luta constante” , afirma.
O mês do orgulho também é fundamental como marco histórico, fortalecendo a identidade coletiva. Em um contexto em que pessoas LGBTQIAPN+ ainda enfrentam violência, discriminação e estratégia de apagamento, as Mães do Orgulho representam não apenas cumprimentadas, mas resistência política contínua, um espaço necessário para afirmar o direito fundamental de existência plena. A luta não é por privilégios, é pelo direito de existir.
Respeito e transformação
O psicanalista explica que o respeito começa pelo reconhecimento da identidade do outro. Então, se você tiver dúvidas sobre como dirigir pessoas trans ou não-binárias, sobre como pronome usar, seja honesto e aceite. "Se você não tem certeza sobre qual pronome usar, simplesmente peça de forma respeitosa. Diga: Como você prefere ser chamado?” .
Alves também alerta sobre comportamentos aparentemente inofensivos: "Aquela piada que você acha inocente pode propagar ódio. É o chamado de efeito bola na cortina: você não vê o estrago que causa do outro lado." O psicanalista também alerta para a necessidade de se dirigir às pessoas trans pelo nome que elas querem ser chamadas. "Por que aceitar chamar de Xuxa para Maria da Graça, e não aceitar chamar as pessoas pelo nome social? Esse processo de negar a identidade do outro é extremamente doloroso e nocivo" , avalia.
Betto Alves acredita que cada pessoa pode ser um agente de transformação: "Você muda, o mundo muda. É simples assim." Ele sugere práticas diárias como evitar perguntas invasivas sobre a vida íntima de pessoas LGBTQIAPN+, reforçar o argumento de que preconceito "é cultural" e buscar informação: "O conhecimento é o melhor antídoto para a ignorância" .
Saber lidar com a diversidade vai além de apenas aceitar as diferenças. A diversidade não é um problema a ser tolerado, mas uma riqueza que combina com oportunidade para todos. "Neste Mês do Orgulho, o convite é para ir além das letras e núcleos: compreender, respeitar e celebrar a diversidade humana em todas as suas manifestações. Porque cada pessoa que pode viver autenticamente torna o mundo um lugar mais colorido, rico e justo para todos" , completa o psicanalista.