Mesmo sem mudar o gosto ou o cheiro, uma bebida pode esconder um perigo silencioso — e até matar. Em São Paulo, 37 pessoas foram intoxicadas por metanol; seis delas já morreram. A farmacêutica Renata Heinen, coordenadora do curso de Farmácia da Uniabeu, alerta que, embora nem sempre seja possível identificar uma adulteração antes do primeiro gole, há sinais que merecem atenção e podem salvar vidas.
“Embora o metanol seja imperceptível ao olfato e ao paladar, a embalagem e o líquido podem denunciar a adulteração. São cuidados simples que podem ser tomados, mas que podem evitar riscos graves”, explica Renata. Segundo ela, a substância vem sendo usada no lugar do etanol pelo baixo custo, e por isso preços muito abaixo do mercado devem acender o alerta.
A especialista recomenda sempre comprar em locais de confiança, como supermercados e distribuidoras regularizadas, exigir nota fiscal e desconfiar de valores muito baixos.
“Para minimizar o risco de se consumir uma bebida adulterada, o consumidor deve tomar precauções, como comprar de fontes confiáveis, que sejam legalizadas e tenham boa reputação, e sempre desconfiar de preços muito baratos, abaixo da média do mercado”, completa, acrescentando que outro ponto de atenção é a nota fiscal para aumentar a confiabilidade da compra.
Cinco sinais de alerta na bebida
Rótulo: deve estar bem colado, alinhado, sem borrões ou erros de impressão.
Selo fiscal (IPI ou de importação): precisa estar intacto.
Embalagem: tampa frouxa ou lacre rompido são sinais de violação.
Gosto e cheiro:
Ao contrário do metanol, algumas substâncias usadas em adulterações podem ser detectadas mais facilmente. Elas deixam a bebida com gosto áspero, sensação de queimação ou sabor adocicado demais, lembrando frutas passadas.
Aspecto e consistência:
Embora o metanol não altere o aspecto da bebida, outros tipos de adulteração podem mudar a textura, tornando o líquido mais viscoso. Fique atento a partículas em suspensão ou aparência estranha no copo.
Renata Heinen explica que a mistura de metanol a bebidas pode ser fatal porque a substância, no organismo, se transforma em compostos altamente tóxicos, como formaldeído e ácido fórmico. “Eles atacam o nervo óptico, podendo causar cegueira irreversível, lesões cerebrais e até falência renal e hepática. Em quantidades maiores, o risco de morte é alto”, destaca.
Ela chama atenção para outro ponto muito importante, a escalada dos sintomas e a agilidade em buscar socorro. De acordo com a especialista, os sintomas da intoxicação podem aparecer de 30 minutos até 72 horas após o consumo. Entre os principais sinais de ingestão de uma substância tóxica, estão dor de cabeça, tontura, náusea, vômitos e dor abdominal. Nos casos mais graves, visão embaçada, sensibilidade à luz, falta de ar e convulsões.
“O ponto-chave é não esperar os sintomas piorarem. Se houver suspeita de ingestão de bebida adulterada, é preciso procurar imediatamente atendimento médico e informar a possibilidade de intoxicação por metanol”, reforça Heinen.
Os casos recentes em São Paulo mostram que a ameaça é real: já foram notificados 39 episódios suspeitos de intoxicação por metanol, com 10 confirmações em exames laboratoriais. Há seis mortes sob suspeita, uma delas já comprovada por ingestão de bebida adulterada. Autoridades interditaram estabelecimentos e apreenderam centenas de garrafas em ações emergenciais.